segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Cardápio


Olha que eu sou indigesto: eu tenho mil sabores, cada parte é uma arte diferente. Eu sou amargo, salgado, azedo, adstringente. Doces, só os olhos, nem vale a pena o resto. Vá por mim, eu não presto.

Fábula Moderna


Era uma vez um unicórnio que queria ser leão. Fugiu dos míticos campos, deixou os encantos para trás, buscou a selva de si. Tentou serrar o chifre, não conseguiu. Rugiu e forçou sustos em quem por ventura passasse. Tanto-tanto tentou, pouco efeito surtiu. Comeu carne vermelha (pra cuspir logo em seguida, ainda que com cuidado pra ninguém notar o mico. Não era mico que queria: o desejo é ser leão). Passava noites inteiras demarcando território. Mas só numa quinta-feira de um ano bem bissexto, folheando seu jornal e mergulhado em frustração, descobriu: a seção de horóscopo dizia que o leão que tanto queria, tanto tentava ser, nem precisava nascer: já habitava, afinal, em ascendência, quietinho e desde antes, os caminhos errantes do seu certo mapa astral.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Do tio, pra ti


Pedrinha preciosa que acabara de nascer. Rebento recém-saído, nascido em meio a tanto bem-querer... eu quero é te dizer que faças juz ao seu caminho, brincando no barro, na areia, de carrinho e caminhão, com os pés no chão e mil sonhos nas estrelas. Que Shirley seja a melhor das mães, com um amor imensamente grande, tão gigante nessa nova atmosfera. E que Xande seja ainda mais dedicado do que já era, um presente e atento pai. Que não faltem os brinquedos, os beijos e abraços envaidecidos dos tios corujas. Que em tuas histórias dragões, duendes e bruxas sejam sempre pequenos aos olhos teus. Não há de se ter medo quando o castelo é de amor. E o sorriso, menino, o sorriso não te falte. Que a alegria te tome de assalto a cada matinar e que seja pra sempre nosso moleque, independente da idade. Que o vovô te ensine o tamanho real das pequenas coisas, o valor de simples ser. E que a vovó te inspire no caminho da tesoura e do papel, da cola e do lápis-cera... arte e cor, nas pontas dos dedos, nas paredes e na alma. Que não te falte nunca saúde, calma, sorte e vontade. Que tenha tantos-tantos amigos e saiba do seu valor. Que essa alegria que hoje nos proporciona seja sempre soma em nossa matemática. Pois contigo a temática é boa demais, é paz que você semeia em nosso caminho. Assim, com pedrinhas de alegria. Alegoria da vida, o nosso Pedrinho.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Mudando de canal


Ando sem paciência pra estórias de amor alheias. Sem saco pra situações pentelhas de micro-dramas mexicanos. De ouvir atentamente argumentos tolos, adolescentes, de quem só cresceu no "érregê". De consolar indistintamente quem não segue o instinto do bom-senso e mergulha fundo em mar de lágrimas. Penso se estou cruel e julgo que não: apenas me tirei férias das crises de pessoas que não tem problemas de verdade e cultivam seus bonsais de mal-amor. Tô pegando pavor a gente que tem medo de trocar o certo pelo duvidoso, quando certeza mesmo é que aprenderam - sem saber, sem sentir - a viver de migalhas. O que hoje lhes existe pra comer há tempos já deixou de ser almoço.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Mundo Meu


Trago um mundo em minha cabeça: são milhões de neurônios piolhentos, multiplicadores de alucinação. Eles constroem verdadeiras civilizações capilares, mares revoltos de soltos pensamentos. São lentos quando querem, mas preferem o turbilhão. Enquanto isso, sigo eu com esse peso na cabeça, levando comigo um mundo à parte. Eles fazem arte com meu couro cabeludo. Me iludo achando que não há problema algum. É um boom o que eles fazem comigo. Não brigo, sou assim. Apenas sigo com esse peso na cabeça, o peso de um mundo inteiro que trago em mim.