quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Tradução


Foi em Barcelona que ela descobriu que o amor não tem roteiro: é cheio de armadilhas apesar dos mil clichês. Embarcou numa história a três e até curtiu, mas sentiu na pele o peso de ser ímpar sobrando num par. Tentou o formalismo: trocou o caso anti-convencional por um casamento em igreja e papel. Notou que igrejas escondem pecados e que papéis esfarelam. Pensou em fazer gênero, segurando por muito tempo o que tanto queria soltar. Perdeu muito, muito antes de ganhar. E numa cafeteria de esquina dispensou o açúcar no café e na alma: abandonou a calma e a doçura. Voltou pra casa com a mala cheia: fotos tantas e fatos tontos. Em terras catalãs, constatou que ainda não sabe o que busca, mas já sabe (e MUITO bem) o que não quer jamais... perder as possibilidades pelo medo do arriscar.

Inspirado no (ótimo) filme VICKY CRISTINA BARCELONA, do Wood Allen. Em cartaz nos cinemas. Recomendo.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Verde Menos, Verde Mais


Ela começou a namorar um cego. Desde então, aprendeu a lidar com as reações de surpresa alheias. Muita gente não resistia e indagava como era manter o relacionamento com alguém que não tem olhos. De início, tentava explicar que não havia tanta diferença... mas o assunto sempre terminava com um certo ar de pena. Sabe-se lá se a pobre (e burra) comoção sentida por tantos era por ele não enxergar ou pelo árduo "fardo" dela. Não importa: hoje, sempre que perguntam esse tipo de coisa, ela limita-se a sorrir, lembrando como é incrível o diálogo das mãos dele em seu corpo, dos pequenos lábios dele nos grandes seus. De como ele valoriza cada som, cada tom que dela sai. E, muda, segue a vida com seu cego amor, um amor tão colorido que não desbota à pequenez cinzenta de quem não sabe ser feliz.