A gente costumava se reunir todas as tardes na casa do Alan. Era um hábito tão constante que dava pra chamar de ritual mesmo. Ao todo, éramos sete. E quando juntos, cada hora passava a ter 120 minutos. Cada um com um jeito peculiar de ser e agir, sem nunca invadir o território ou ponto de vista dos outros seis. Não me perguntem como, mas a gente simplesmente não brigava NUNCA. Quatro garotões que achavam que podiam mudar o mundo... e três mocinhas que tinham certeza disso. Éramos inseparáveis. Durante dois anos, ninguém de fora conseguia entender como funcionava essa história. Quem ficava com quem? Quem sobrava? E se não sobrava, como é que faziam?!? Povinho besta. Claro que vez ou outra rolavam uns beijinhos (e até algo mais, óbvio), mas em essência não passávamos todos de amigos. Não havia malícia, somente uma cumplicidade ímpar. E a intimidade era tanta que, juntos, podíamos fazer qualquer coisa que desse na telha: filosofar, rir, chorar, falar de sexo, afogar as mágoas, queixar-se da vida (acreditando, ingenuamente, que tínhamos do que reclamar naquela época. Éramos totalmente felizes e não sabíamos). Dois anos. Então, o tempo violentamente bate à nossa porta, sem pedir licença e trazendo nossas passagens para a vida adulta. Vestibular. Faculdade. Trampo. Amores. Namoros. Noivados. E a gente foi ficando "sérios e ocupados" demais para retomar o ritual das tardes adolescentes. Sinto muita, muita falta daquilo tudo... e o que me conforta é saber que todos eles também.